sábado, 6 de agosto de 2011

Capiba - 25 anos de frevo

Capiba e Nelson Ferreira
Essa idéia de falar em Capiba em plena semana do aniversário de morte de Luiz Gonzaga e do dia estadual do maracatu, tem um propósito, mostrar que não da pra deixar um ritmo tão sostificado e ao mesmo tão popular, com a nossa cara, preso apenas ao período carnavalesco e  nada melhor do que relembrar esse albúm clássico, que foi o primeiro disco de frevo "a bombar" num período que não era carnaval.
Divulgar a história de Capiba e esse albúm é apenas um pequeno passo  para que o frevo deixe de ser um ritmo sazonal. Apenas para lembrar que, se o frevo só pode tocar quando for carnaval, então que seja carnaval o ano todo.
Celebrai!

Segue postagem, com a resenha de José Teles sobre "Capiba-25 anos de Frevo.
Abraços, Corisco.

José Teles
teles@jc.com.br

Quando, em 1953, José Rozenblit resolveu bancar o 78rpm que colocaria o nome Rozenblit no mercado de discos, Claudionor Germano foi convidado para cantar o frevo-canção que estaria no lado A do bolachão, Boneca (Aldemar Paiva/ José Menezes). A escolha recaiu nele não porque já fosse intérprete de músicas para o Carnaval, e sim por ser um dos mais prestigiados cantores do Recife. Seis anos mais tarde, a Rozenblit já era uma gravadora consolidada no mercado fonográfico nacional, e seus diretores resolveram prestar uma homenagem a Capiba, cuja carreira como compositor completava 25 anos: “Capiba me contou que o LP seria feito e perguntou se eu gostaria de interpretar as composições dele. Disse que seria um prazer e aceitei na hora”. O resultado foi o álbum Capiba 25 anos de frevo, lançado simultaneamente com O que eu fiz... e você gostou, este com composições do compositor e maestro Nelson Ferreira.

“Quando surgiu esta história do disco para Capiba, Nelson Ferreira, que não queria ficar atrás, surgiu com a idéia deste outro e também me convidou para gravar”, continua Claudionor. Embora tenham sido lançados em 1959 (gravados no segundo semestre daquele ano), ambos os LPs, que agora em 2009 estão completando meio século, eram dirigidos à folia de 1960: “Naquele tempo os discos de Carnaval eram lançados com antecedência, e muito bem divulgados”. Mesmo sabedor desta estratégia da Rozenblit, Claudionor Germano (que trabalhou na gravadora), ficou com um pé atrás ao aceitar ser o intérprete dos dois álbuns: “Pensava que fosse alguma jogada de marketing, que eu não sabia bem o que fosse. Até então eu cantava muito pouco frevo. Meu negócio era mais baladas, músicas românticas. Por seis anos consecutivos fui considerado o melhor cantor da cidade. Quer dizer, fui hexa antes do Náutico, e não foi por cantar frevos”, brinca o cantor, que é alvirrubro.

O sucesso de Capiba 25 anos de Frevo e Nelson Ferreira o que eu fiz... e você gostou deve ter surpreendido até o próprio José Rozenblit. Afinal o frevo, embora fosse um sucesso nas ruas da capital pernambucana desde o final do século 19, nunca foi um estouro de vendas (a exceção havia sido o frevo-de-bloco Evocação, de Nelson Ferreira, que em 1957 foi o campeão do Carnaval brasileiro).

“Os discos foram começando a vender bem, com três meses, as vendas dispararam. Passaram vender tanto, que botaram um placar na gravadora. De um lado Capiba, do outro Nelson Ferreira, com os números de cópias vendidas. Dentro de pouco tempo Capiba estava lá na frente. A gente não tem como fazer um cálculo do que vendeu. As vezes eu chegava com Capiba à noite na sede da gravadora, e lá estavam duas kombis de Adolfo da Modinha cheia de LPs, sem nota fiscal. Capiba nunca brigou por isto. Até porque não vivia de música, ganhava bem no Banco do Brasil”, conta Claudionor Germano, que afirma não ter recebido muito com seus dois discos mais conhecidos, “Não ganhei quase nada, porque a Rozenblit não pagava. De lá para cá não vi a cor do dinheiro. Até hoje vivem relançando as músicas de Capiba e de Nelson que gravei, botam este negócio de 20 supersucessos, e a gente não vê a cor do dinheiro”, queixa-se.

Nem ele nem ninguém tem idéia da quantidade de cópias que estes dois discos venderam. Sobretudo o 25 anos de frevo, provavelmente o recordista brasileiro em tempo de permanência em catálogo. Com diversas capas, pelo selo Mocambo (da Rozenblit), Polydisc, ou pela InterCD, gravadora paulista, que os relançou com as capas originais, ele está em catálogo desde seu lançamento. O de Nelson Ferreira teve menos exposição. Seus fonogramas foram espalhados por diversos relançamentos. Somente teve uma reedição com capa original recentemente quando a citada InterCD passou a relançar o catálogo da extinta Rozenblit, há alguns anos pertencente à Polydisc.

O sucesso estrondoso destes álbuns, que popularizou o frevo por todo o Norte e Nordeste, chega a ser curioso, porque a maioria das composições era antiga. Borboleta não é ave, por exemplo, que está no disco de Nelson Ferreira, tem a honra de ter sido o primeiro frevo a chegar ao disco, em 1923, pelo cantor Baiano (Manuel Pedro dos Santos, nascido em Santo Amaro da Purificação, no recôncavo da Bahia), primeiro cantor profissional do país na era da música gravada), enquanto É de amargar, de Capiba foi lançada por Mário reis em 1934. Chora palhaço, de Nelson Ferreira foi gravada em 1939, pelo Coral RCA, e Julia, de Capiba, foi cantada por Francisco Alves em 1938.

A razão do sucesso para Claudionor Germano não tem nenhum mistério: “As melodias são bonitas e as letras têm conteúdo, ao contrário destas coisas de axé que se tocam hoje. As músicas de Capiba são eternas. Ele compunha como se fizesse para uma mulher imaginária, são músicas com letras que têm muita força, por isso é que acho que os frevos de Capiba não devem ser cantados com um andamento muito rápido. Devem ser mais lentos para que o pessoal possa entender bem as letras”.

Ainda em 1959, Claudionor Germano gravaria mais um disco de composições de Capiba (e parceiros): Sambas de Capiba, há anos, inexplicavelmente, fora de catálogo. No ano seguinte, a Rozenblit repetiu a dose, com a dobradinha de compositores, e os LPs Carnaval começa com “C” de Capiba, e Carnaval de Nelson Ferreira O que faltou... e você pediu. Novamente o cantor seria acompanhado pela Orquestra Mocambo, regida por Nelson Ferreira. Mais uma vez, Claudionor diz que não ganhou dinheiro com estes álbuns, mas nem por isto deixou de lucrar com eles. “Foram tudo para mim. Foi através destes discos que me projetei nacionalmente, e até no exterior”, diz o cantor.

(© JC Online)



Capiba - 25 anos do frevo
01 - É de amargar/ Tenho uma coisa para lhe dizer

02 - Manda embora essa tristeza/ Quem vai pro farol é o bonde de Olinda
03 - Júlia/ Casinha Pequenina
04 - Gosto de te ver cantando/ Linda flor da madrugada

05 - Quem me dera/ Teus Olhos
06 - Não sei o que fazer/ Que bom vai ser
07 - Quando é Noite de Lua / E nada mais
08 - Morena da cor de canela/ Os melhores dias da minha vida
09 - Quando se vai um amor /  Você faz que não sabe
10 - Deixa o homem se virar/ A pisada é essa/ Vamos pra casa de noca

11 - Ai se eu tivesse/ Que é que vou dizer
12 - Nos cabelos de rosinha/ Modelos de verão   

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